O livro da foto, embora publicado pela primeira vez em Madri em 1913, continua atual, pois o autor escreveu sobre homens e mulheres sem ideais, pragmáticos, perdidos numa rotina rasa e automática, sem misericórdia e compaixão.
Para Ingenieros o homem medíocre é invejoso, aquele cuja ausência de caracteres pessoais impede que se possa distinguir entre o mesmo e a sociedade, vivendo sem que se note sua existência individual, permitindo que a sociedade e a mídia pense e deseje por ele.
O homem medíocre é sinônimo de homem domesticado, se alinhando com exatidão às filas do convencionalismo social. A opinião dos outros é o que importa, são os escravos das sombras, vivem para o fantasma que projetam na opinião de seus similares. Porque pensam sempre com a cabeça social e não com a própria, são a escora mais firme de todos os preconceitos políticos, religiosos, morais e sociais.
O homem medíocre associa-se aos milhares que existem para oprimir os que não comungam com a sua rotina.
...Cada um dos sentimentos úteis para vida humana engendra uma virtude, uma norma de talento moral. Há filósofos que meditam durante longas noites insones, sábios que sacrificam sua vida nos laboratórios, patriotas que morrem pela liberdade de seus concidadãos, altivos que renunciam a qualquer privilégio que tenha por preço a dignidade, mães que sofrem a miséria defendendo a honra de seus filhos. O homem medíocre ignora essas virtudes; limita-se a cumprir as leis por temor às penalidades que ameaçam quem as viola, guardando a honra para não arriscar as consequências de perdê-la...(pg. 104)
Para Ingenieros, sem unidade moral não há gênio. Certamente não é gênio aquele que prega a verdade e transige com a mentira; aquele que prega a justiça e não é justo; aquele que prega a piedade e é cruel; aquele que prega a lealdade e atraiçoa; aquele que prega o caráter e é servil; aquele que prega a dignidade e rasteja.
O homem medíocre evita píncaros e abismos. Intranquilo sob o sol meridiano e medroso durante a noite, procura seus arquétipos na penumbra. Teme a originalidade. O homem medíocre que, porventura, se aventura, tem apetites urgentes: o êxito.
Não suspeita da existência de outra coisa que não o brilho do momento. O êxito é triunfo efêmero, a gloria é definitiva, perene. O êxito se mendiga, a glória se conquista.
Ingenieros diz que a mediocridade é mais contagiosa do que o talento. Pela simples razão que o talento incomoda, ninguém gosta nem procura o desconforto. O homem sem ideais e visões faz da sorte um oficio, da ciência um comércio, da filosofia um instrumento, da virtude uma empresa, da caridade uma festa, do prazer sensualismo. Conduz à ostentação, à avareza, à falsidade, à avidez, à simulação. O medíocre gosta das crises, pois só aí ele pode brilhar.
O homem medíocre é rotineiro, honesto, manso, pensa com a cabeça dos outros. Sua amizade é uma complacência servil, ou uma adulação proveitosa. O medíocre se vangloria de sua prudência, a aventura, seja de que natureza for, é sempre, para ele, um risco desnecessário, mesmo que importe em progresso pessoal ou coletivo, porém, a excessiva prudência dos medíocres paralisou sempre as iniciativas mais fecundas.
Um dos sentimentos que mais se aproxima da mediocridade é a inveja.Trata-se de um sentimento torpe, um dos vícios que causa mais mal à humanidade. O invejoso se coloca como cães de guarda, sempre alerta ao menor ruído. Basta alguém se destacar em alguma área, por mais ínfima que seja e lá estará o invejoso, pronto para apontar o dedo e tentar minimizar o feito de seu próximo.
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