Gosto de escrever textos para provocar reflexões sobre as lições da sabedoria da natureza, especialmente a dos animais.
Um bom exemplo é o das aves migratórias que sabem a hora de ir embora, de sair de cena observando apenas os sinais do contexto onde estão.
Em alguns casos, podemos aprender com as aves.
Temos uma natureza interior, uma ecologia, com animais selvagens e primordiais.
Cada ser humano é uma versão do Noé Bíblico, que precisa construir uma Arca para salvar os seus animais interiores do dilúvio do inconsciente.
Nessa linguagem simbólica há o desafio de ter consciência da força da natureza instintiva que pulsa em nós, e que precisa ser descoberta pelo ser humano, entendida e aceita pela razão.
Salvar os nossos animais interiores do dilúvio do inconsciente passa pelo autoconhecimento. Entender o eu, o outro, o grupo e leitura da própria realidade.
Contudo, não temos unicamente uma zoologia interior.
Há também multidões de personagens e padrões de comportamentos e atitudes – os arquétipos – teorias descritas pelo psicanalista C.G. Jung, com os seus múltiplos diálogos.
Todos nós, de certa forma, temos os nossos diálogos internos. Nunca estamos sós!
Podemos até afirmar que conversamos silenciosamente, perguntamos, sem ter todas as respostas. Dizem que Deus nos sonda, escuta e nos conhece na intimidade.
O grande poeta americano Walt Witmann, descreveu em versos, os conflitos e dilemas da alma humana:
“... sou imenso, sou contraditório, há multidões dentro de mim...”
Cabe uma pergunta:
Quem verdadeiramente se conhece? Sabe ler a realidade em que vive?
Sobre este tema, o filósofo grego Heráclito, sempre alertava aos seus discípulos com a seguinte afirmação:
- “Quem quiser investigar a verdade, deve estar preparado para surpresas...”
Na bíblia existem várias passagens para a reflexão sobre o assunto, como por exemplo, as dúvidas de Saulo quando, a caminho de Damasco, cai por terra tremendo e atônito, volta a sua face para o céu e pergunta:
- “Senhor, que queres que faça?” Esta mesma pergunta, foi formulada por Francisco de Assis, quando, numa espécie de “loucura”, ouvia vozes, mas não sabia responder.
Foi preciso o recolhimento desnudo para que ele, finalmente ouvisse a única e verdadeira voz interior:
- Francisco, restaure a minha Igreja!
Quem sabe agora, arrisquemos entender numa nova dimensão, as palavras de Jesus:
- Amai vossos inimigos. (Lc 6,35)
- Amai-vos uns aos outros... (Rm 12,10)
E finalmente, a frase mais esclarecedora:
- Amai o próximo como a si mesmo!
E, se de repente você descobrisse que o seu “próximo” está no seu interior, e que o seu maior “inimigo” é “você” mesmo? Sob a forma de pensamentos não saudáveis, isolamento, omissões e atitudes?
E, se percebesse mais profundamente que não se conhece na essência, que não cultiva amor próprio?
Que desconhece o “outro” contido em você (próximo), o grupo que está inserido a sociedade e no universo?
Que se encontra com baixa autoestima e não se valoriza?
Nessa fase, tenha cuidado com os espelhos!
Este “insight” sobre a verdade, como bem lembrou Heráclito, não seria uma grande surpresa pra você?
Perdoar é conhecer o amor, entender-se como ser de relação com animais racionais ou não. Eles existem e, por vezes, estão mais próximas que pensamos.
Agora, quem sabe? não seremos capazes de melhor compreender a sabedoria fantástica de Jesus Cristo?
Pois, amando os nossos “inimigos”, estaremos certamente amando a nós mesmos, um passo decisivo para compartilhar o amor, na grande fraternidade universal tantas vezes referida nas escrituras como o Reino de Deus que está no presente, no aqui e no agora do maravilhoso instante consciente.
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