Pular para o conteúdo principal

Poema Tu e Eu

Tu e eu, ao perdermos um ao outro,
ambos perdemos.
Eu, porque tu eras o que
eu mais amava,
tu, porque eu era quem te amava mais.
Mas, entre nós dois,
tu perdes mais do que eu.
Porque eu poderei amar
a outras
como amei a ti.
Mas a ti nunca ninguém
jamais amará
como eu te amei.


Ernesto Cardenal, 1971
(Tradução de Paulo Sant'ana)


Já recitei muitos versos do poeta e monge nicaragüense, em bares, encontros literários, reuniões de poetas e até nas caminhadas silenciosas enquanto exercito o corpo aproveito para dar um “treino” na memória.
Um dia estudando teatro de vanguarda, na UFSC, com o Grupo Pesquisa Teatro Novo, coordenado pela minha querida Diretora Carmen Fossari, assistimos a um vídeo onde trabalhadores rurais dramatizavam com bonecos gigantes uma forma de protesto contra a exclusão social. No vídeo, em p & b, lá estava Ernesto Cardenal. Como diz na música de Milton Nascimento, “... o artista tem que estar onde o povo está.”
Ernesto Cardenal nasceu em Granada, Nicarágua, em 1925. Em 1954 participou na rebelião contra a ditadura de Somoza. Foi monge trapense, ordenou-se sacerdote e fundou a comunidade de Solentiname, em uma ilha do lago da Nicarágua. Vinculado à frente sandinista desde 1978, foi ministro de Cultura de duas legislaturas. Sua obra poética compreende, entre outros títulos, Salmos, Oração por Marilyn Monroe e outros poemas.
Há muitas versões de traduções de Cardenal para o nosso idioma.
Gosto da tradução de Paulo Sant'ana, jornalista e comentarista de futebol que conheci por acaso, numa roda de discussão sobre futebol, num intervalo de aula no bar da PUC-RS, 1975. Na época ele estudava Ciências Jurídicas e Sociais e eu Engenharia Eletrônica.
Jornalista autografando seu livro (foto ZH)
Mas. Voltando ao poeta da Nicarágua, em 2005, Cardenal foi candidato ao Prémio Nobel de Literatura e, entre outras distinções, recebeu o Prémio Rubén Darío, o mais importante das letras nicaraguenses (em 1965), a Ordem cubana "Haydeé Santamaría" (1990) e o Prêmio da Paz dos livreiros alemães (1980).
Nós leitores, poetas e admiradores refletimos sempre que encontramos seus escritos e Paulo Sant'ana, é o seu maior intérprete no idioma de Camões.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bruxas ou Fadas? E a responsabilidade da escolha. *

“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o...”. Nietzsche - Filósofo alemão Crescemos ouvindo histórias de bruxas e fadas. É claro que as fadas estavam sempre associadas aos adjetivos mais doces e positivos: boazinha, madrinha, encantada e com capacidade de resolver por nós, até os mais difíceis problemas. Mas, parando pra pensar, será que isso é bom? Agora vejamos as bruxas, aquelas figuras más, que não ajudavam em nada, não faziam os nossos trabalhos quando estávamos sobre carregados - destas - queríamos distância! Assim, sem que tivéssemos consciência, fomos nos acostumando à ajuda de alguém que sempre assumia o papel

Lua cheia e a Lenda do Coelho

Ao sair para caminhar percebi a lua cheia no céu claro e iluminado por ela. Foi possível ver o perfil de um coelho que os orientais afirmam existir na lua cheia. A Lenda do Coelho Segundo a história budista, num certo dia um velho senhor pediu comida para um macaco, uma lontra, um chacal e um coelho. O macaco colheu frutas e trouxe para o velho senhor, a lontra trouxe peixes e o chacal, um lagarto. No entanto o coelho não trouxe nada, pois as ervas que constituem a sua alimentação não eram boas para os humanos. E então o coelho decidiu oferecer seu próprio corpo e se jogou no fogo. Porém o corpo do coelho não se queimou, pois o senhor era uma divindade que observava tudo na terra. E para as pessoas lembrarem do sacrifício do coelho, o homem desenhou a imagem do coelho na lua cheia. Diz a lenda que só os apaixonados pela vida conseguem ver o coelho, e que a lua cheia não é só dos poetas e daqueles que se entregam ao amor...

A árvore dos sapatos *

 A árvore dos sapatos   (Do livro Contador de História, Julião Goulart, Editora UFSC 2009, p.22)  História de Mia Couto que transformei em roteiro para  teatro  " O contador de histórias e a árvore dos sapatos" ,  peça que foi encenada em três temporadas, 2009,2010 e 2011, nos teatros da UBRO, UFSC, UDESC e TAC, recontada abaixo: "Muito longe daqui, no Sul da África, não muito tempo atrás, vivia uma tribo que não usava sapatos. Pra quê sapatos? Se a areia era macia, a grama também. Mas às vezes as pessoas tinham que ir à cidade. Para resolver um assunto, um negócio de cartório, hospital, ou receber dinheiro ou até mesmo ir a uma festa. Aí eles precisavam de sapatos, e era um tal de pedir emprestado, que nunca dava certo. Foi aí que o velho mais velho da vila que, como tantas vezes acontece, era também o mais sábio   resolveu o problema. Ele abriu uma tenda de aluguel de sapatos bem na entrada da vila. Instalou-se à sombra de uma grande árvore, e em seus galhos pendur