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Prefácio para um livro

Um escritor, poeta, convidou-me para fazer o prefácio do seu novo livro.
Depois de ler atentamente os originais, buscando sentir a essência da inspiração do escritor, finalmente iniciei minha tarefa, já tendo por base dois pilares: poemas do cotidiano, que me lembrou Mário Quintana, e a percepção sensível do invisível aos olhos comuns, que só um poeta é capaz de ter das coisas que aparentemente não têm sentido para a sociedade de consumo que hoje vivemos.
Tudo fluía, até que o dilema que acomete os escritores aconteceu comigo. Faltava uma palavra “chave”para expressar a constante mudança, transitoriedade e brevidade de tudo.
Lembrei de Heráclito, um filósofo da antiga Grécia e a palavra instantaneamente surgiu.
Pensar na Grécia, berço da filosofia e de tantos saberes parece estimular a produção de dopamina e hormônios da memória. A palavra parecia ter caído do céu: DEVIR!
Era a palavra perdida que eu acabara de encontrar.
No dicionário devir pertence a duas classes gramaticais: Substantivo masculino, que na filosofia indica movimento pelo qual as coisas se transformam. E verbo intransitivo: Vir a ser, tornar-se, transformar-se.
E, voltando ao prefácio, um poeta é a interpretação viva da essência das coisas e, para isso, precisa constantemente ser aquilo que deveras sente.

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