Pular para o conteúdo principal

Prefácio para um livro

Um escritor, poeta, convidou-me para fazer o prefácio do seu novo livro.
Depois de ler atentamente os originais, buscando sentir a essência da inspiração do escritor, finalmente iniciei minha tarefa, já tendo por base dois pilares: poemas do cotidiano, que me lembrou Mário Quintana, e a percepção sensível do invisível aos olhos comuns, que só um poeta é capaz de ter das coisas que aparentemente não têm sentido para a sociedade de consumo que hoje vivemos.
Tudo fluía, até que o dilema que acomete os escritores aconteceu comigo. Faltava uma palavra “chave”para expressar a constante mudança, transitoriedade e brevidade de tudo.
Lembrei de Heráclito, um filósofo da antiga Grécia e a palavra instantaneamente surgiu.
Pensar na Grécia, berço da filosofia e de tantos saberes parece estimular a produção de dopamina e hormônios da memória. A palavra parecia ter caído do céu: DEVIR!
Era a palavra perdida que eu acabara de encontrar.
No dicionário devir pertence a duas classes gramaticais: Substantivo masculino, que na filosofia indica movimento pelo qual as coisas se transformam. E verbo intransitivo: Vir a ser, tornar-se, transformar-se.
E, voltando ao prefácio, um poeta é a interpretação viva da essência das coisas e, para isso, precisa constantemente ser aquilo que deveras sente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bruxas ou Fadas? E a responsabilidade da escolha. *

“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o...”. Nietzsche - Filósofo alemão Crescemos ouvindo histórias de bruxas e fadas. É claro que as fadas estavam sempre associadas aos adjetivos mais doces e positivos: boazinha, madrinha, encantada e com capacidade de resolver por nós, até os mais difíceis problemas. Mas, parando pra pensar, será que isso é bom? Agora vejamos as bruxas, aquelas figuras más, que não ajudavam em nada, não faziam os nossos trabalhos quando estávamos sobre carregados - destas - queríamos distância! Assim, sem que tivéssemos consciência, fomos nos acostumando à ajuda de alguém que sempre assumia o papel

Lua cheia e a Lenda do Coelho

Ao sair para caminhar percebi a lua cheia no céu claro e iluminado por ela. Foi possível ver o perfil de um coelho que os orientais afirmam existir na lua cheia. A Lenda do Coelho Segundo a história budista, num certo dia um velho senhor pediu comida para um macaco, uma lontra, um chacal e um coelho. O macaco colheu frutas e trouxe para o velho senhor, a lontra trouxe peixes e o chacal, um lagarto. No entanto o coelho não trouxe nada, pois as ervas que constituem a sua alimentação não eram boas para os humanos. E então o coelho decidiu oferecer seu próprio corpo e se jogou no fogo. Porém o corpo do coelho não se queimou, pois o senhor era uma divindade que observava tudo na terra. E para as pessoas lembrarem do sacrifício do coelho, o homem desenhou a imagem do coelho na lua cheia. Diz a lenda que só os apaixonados pela vida conseguem ver o coelho, e que a lua cheia não é só dos poetas e daqueles que se entregam ao amor...

A árvore dos sapatos *

 A árvore dos sapatos   (Do livro Contador de História, Julião Goulart, Editora UFSC 2009, p.22)  História de Mia Couto que transformei em roteiro para  teatro  " O contador de histórias e a árvore dos sapatos" ,  peça que foi encenada em três temporadas, 2009,2010 e 2011, nos teatros da UBRO, UFSC, UDESC e TAC, recontada abaixo: "Muito longe daqui, no Sul da África, não muito tempo atrás, vivia uma tribo que não usava sapatos. Pra quê sapatos? Se a areia era macia, a grama também. Mas às vezes as pessoas tinham que ir à cidade. Para resolver um assunto, um negócio de cartório, hospital, ou receber dinheiro ou até mesmo ir a uma festa. Aí eles precisavam de sapatos, e era um tal de pedir emprestado, que nunca dava certo. Foi aí que o velho mais velho da vila que, como tantas vezes acontece, era também o mais sábio   resolveu o problema. Ele abriu uma tenda de aluguel de sapatos bem na entrada da vila. Instalou-se à sombra de uma grande árvore, e em seus galhos pendur