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Onde está Belchior?

Cumpriu-se o velho ditado: “Quem está vivo sempre aparece”.
Jogada de marketing ou não, Belchior foi “encontrado pela reportagem da TV Globo” num lugar que me pareceu deslumbrante, uma casa de campo no interior de um lugar qualquer...
Lembrei-me de Manuel Bandeira e de seus versos sobre um lugar de fuga, que eu pensava não existir, até ver onde Belchior estava.


Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora
Alumbramento Rio de Janeiro, 1986, pág. 90)

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